Escrever e ler sempre foram um grande diferencial na minha vida. Quando eu tinha insônia, ao invés de me submeter a essas "receitas de folhetim" que a gente lê nas revistas, eu lia livros, ou relia alguns trechos de que eu gostava, ou escrevia no meu diário. È, eu tive três cadernos de diário dos 14 aos 16 anos. Ai um belo dia, minha mãe leu parte de um deles, justamente a parte em que eu dizia gostar de determinado professor em especial. E apesar de nada ter realmente acontecido entre eu e ele(eu era muito platônica nessas minhas coisas), minha mãe me cercava por todos os lados, tentando saber quem era. Não sei se algum dia ela soube. O fato é que, depois disso, queimei TODOS eles. fiquei realmente muito triste, porque me senti tolhida, senti como se me enclausurassem numa masmorra bem funda(existe isso?), onde eu sabia que não ia poder escrever mais, nenhuma palavrinha, nenhum risco, pois tudo seria "vistoriado" dali em diante.
Na verdade, não começou ai meu interesse por leitura. Minha mãe é professora, e desde cedo ela me trazia revistinhas da turma da mônica para ver...é, porque "ler" propriamente dizendo eu ainda não lia, mas sabia que aqueles balõezinhos em cima das cabeças dos desenhos queriam dizer alguma coisa...e eu queria SABER o que era!! então aos poucos, minha mãe foi me ensinando o bê-a-bá, primeiro me fazendo cobrir pontinhos, depois as letrinhas pontilhadas, depois me dizendo o nome das coisas...e ai, um belo dia, eu consegui "ler" um quadrinho inteiro sem gaguejar ou parar no meio da palavra...e aos poucos isso ia me tomando todo o tempo...onde eu ia, falava o nome das coisas: placas de trânsito e faixas na rua eram uma atração pra mim...lembro nitidamente do orgulho que senti quando, ao entrar na escola, não fui para o "pré", me mandaram direto para a primeira série, "porque ela já sabe ler" e de uma manhã muito legal em que eu falei a palavra "OVO" para a professora sem nenhum problema, como se fosse a coisa mais corriqueira do mundo...e depois teve o bilhete desaforado que escrevi para a diretora, dizendo que eu não iria mais ás aulas devido a determinada coisa que havia acontecido (minha mãe foi chamada na diretoria, para explicar como uma menina de apenas sete anos já sabia dizer o que queria!nem lembro mais o que era!!).
Sempre gostei de cartas escritas á mão, de colagens dentro dos envelopes, de cheirinho de perfume na aba das páginas...depois vieram os e-mails, e tudo ficou muito frio...minha madrinha escrevia "no papel" cartas para minha mãe e eu me correspondi por uns três anos com o vizinho dela, que era muito seu amigo e companheiro. Amo recebê-las! chorei ao assistir o filme "mensagem para você", ao ler "cartas para um amigo" e quando minha madrinha faleceu, em 1992. Tem coisa melhor do que o calor humano descrito numa folha de papel? com a partida dela, nós ficamos meio òrfãs de cartas, eu e minha mãe (que também era sua afilhada). Ela perdeu uma grande amiga.
Na quinta série, ganhei um concurso de redação, mas não esperava, até porque era de todo o colégio. também ganhei um concurso de poesia para homenagear a patrona da escola (falecida a mais de 100 anos) e meu diretor adorava me colocar em saia justa!! eu achava divertido escrever e era minha paixão!!! pensei diversar vezes em me formar jornalista e até fui na redação de um grande jornal aqui de Belém para ver como era o dia-a-dia de um repórter... e me apaixonei mais ainda.
Mas por um desses revezes da vida, fiz vestibular para Ciências Contábeis, passei e descobri que ali eu também poderia me realizar: havia tantas leis para ler e discutir que eu nunca me sentiria entediada..a sede de saber era constante em mim.
Hoje, mãe, esse desejo de saber como é, de escrever o que eu penso, sinto, observo, ficou muito, muito forte, eu não pude deixar de pôr para fora...a barragem que estava tranquila desde os 16 anos veio abaixo!!E desta vez, não há ninguém para represar esse rio!...
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