"Independentemente de como foi seu parto, ainda assim você trouxe um ser humano real para este mundo.
"Se você é mãe, tem uma mãe ou conhece uma mãe, há uma chance de ter escutado uma daquelas vívidas e, às vezes, horríveis histórias trocadas entre mulheres sobre como deram à luz.
Quando as mulheres relembram suas experiências de parto/nascimento, normalmente há uma discussão se tiveram ou não uma anestesia peridural, um parto natural (vaginal) ou uma cesariana e por quanto tempo estiveram em trabalho de parto.
Ocasionalmente, você pode até perceber um tom um pouco competitivo escapar nessas conversas sobre qual mãe sentiu mais dor ou a que sofreu mais durante todo o processo de parto.
Compartilhar e comparar é normal no comportamento humano, e todas nós fazemos isso.
Mas, às vezes, as mães que se sentem inadequadas ou inseguras podem se sentir acuadas com a ideia de que você precisa ter aquele parto cru, natural, sem anestesia, amamentar apenas com o peito quando o bebê nascer e simplesmente ser uma supermãe no geral.
Caí nesse tipo de armadilha em relação ao aleitamento materno (leia meu artigo sobre isso aqui, em inglês) e ainda há dias em que luto contra essas expectativas inatingíveis em outras áreas da maternidade.
Minha primeira (e única) história sobre dar à luz soa muito diferente do que a experiência foi de fato para mim. Foi um parto natural e não recebi uma peridural. Por ter dado à luz dessa maneira, ouço frequentemente que sou incrível, forte como uma mulher das cavernas.
Mas quer saber a verdade?
A verdade é que eu queria desesperadamente uma peridural e havia planejado receber uma. Eu literalmente berrei por minha peridural! Mas não veio nunca. Era muito tarde. Minha filha já estava a caminho como um torpedo humano. Não houve tempo para nada daquilo.
Não há palavras para descrever a dor do parto sem uma peridural a partir da minha própria experiência, além de dizer que literalmente pensei que estivesse morrendo. (Vejam, acabei de compartilhar minha horrível experiência do parto com vocês).
Todo o processo de nascimento de minha filha durou cerca de seis horas. Assim que conto isso para algumas mães, elas normalmente são rápidas em me dizer como foi fácil para mim em comparação com a experiência delas de um trabalho de parto muito mais longo.
Entendi. Certamente estou aliviada que o meu não tenha durado mais.
Mas você deveria se sentir menos orgulhosa de si mesma ao produzir um ser humano do seu próprio corpo se o seu trabalho de parto terminou em menos tempo do que o de outra mãe? Não. Você é mais mulher se empurrou um bebê pela maneira "natural" ou fez uma cesariana? Não.
Independentemente de como você tenha feito, ainda assim trouxe um ser humano real (ou, em muitos casos, mais de um!) para este mundo. Um bebê não sairá de outra maneira a não ser via VOCÊ.
Você não precisa de ninguém para validar sua jornada ou dar-lhe permissão para ter orgulho sobre como deu à luz seu filho ou filhos.
Cada mãe tem sua história, sua lenda, sua reivindicação à iniciação mental, emocional e física à maternidade. Uma mãe não é mais forte do que a outra por estar em trabalho de parto por mais tempo, mais rápido, sob o efeito de anestesia, sem anestesia ou algo no meio disso.
É ótimo ter aquela história — aquela lenda —, que é seu conto sobre como trouxe ao mundo seu filho ou filhos. Aceite-o com todo seu caos, falhas e glória sangrenta.
Minha intenção original era estar completamente anestesiada para o nascimento de minha família. Não aconteceu como eu previa e acabei entrando em pânico.
E tudo bem.
Eu gostaria de estar super zen e preparada para o que estava por vir? Claro.
Todas as experiências de um parto são deslumbrantes tapeçarias que compõem uma vida. Uma não é melhor do que a outra ou mais incrível do que a outra. São apenas diferentes e todas vêm com diferentes graus de expectativa, preparação, medo, esperança e circunstância.
Jamais uma mulher deve se sentir inferior por não dar à luz da maneira que alguém pensa que é mais superior com base em um nível de dor ou qualquer outro fator.
Eu sei que muitas mulheres não estão nem aí para o que outras pessoas pensam sobre sua história de parto, o que é incrível. Mas existem algumas por aí que de fato se sentem inadequadas por uma razão ou outra.
Não deveriam.
A vida chega de muitas maneiras, avenidas e jornadas. É um verdadeiro milagre que sempre deveria nos impressionar, não importando como aconteceu."
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*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês., para o HuffPostBrasil.com em 19/09/2017 por Michelle Zunther, na coluna Opinião.
Achei tão incrível e a mais pura "verdade verdadeira" que queria muito compartilhar...depois da mãe que publicou usar fraldas geriátricas para após o parto, acho muito válido que mais pessoas expressem essa situação, pois eu mesma já passei por isso. Assim como cada bebê é único, as mães também são únicas e suas histórias de vida também são importantes. Não menosprezá-las ou taxá-las de "menos mães", por terem tido uma experiência diferente de parto é o que de mais a palavra "sororidade" pode expressar, e não somente usar esta palavra como uma maneira de "arrebanhar" mulheres por uma "causa feminina específica"
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Já havia "sororidade" entre as mulheres desde os tempos de minha bisavó, quando muitas mulheres se juntavam para ajudar a cuidar de suas crias, todas juntas, e em diferentes épocas e em diferentes situações. Ainda hoje existe, quando minha filha fica com as avós e tias e sentadas ao redor da mesa (ou na sala, ou no quarto), ficam conversando e penteando seus cabelos....vejo essas imagens e penso que isso sempre ocorreu, esse apoio mútuo, essa conversa calorosa de mulheres que se querem bem. Isso pra mim é o melhor de tudo.
Então menos julgamentos e mais calor HUmANO, por favor.