"15:30...tem uma hora que estou sentada, aqui do lado de fora, esperando que alguém precise de mim...e nada! ouço gritos, mas não são de terror...logo em seguida, risadinhas frouxas e um baque..entro de novo, olho de esguelha para dentro da sala...tudo normal.
Volto pra casa com o coração na mão, certa que de algo estranho vai acontecer, mas não, eu estou pensando demais, nervosa demais, estou pensando besteiras, vai dar tudo certo, afinal...
16:30, coloco roupas pra lavar, tomo banho, como alguma coisa que tinha na geladeira (nem lembro o que era) pego um livro para tentar distrair o olhar do relógio em cima da estante, enquanto a mão aperta o celular, quase como se estivesse espremendo uma banana (será que alguém vai ligar?).
17:15, roupas no varal, mas lá vem a chuva de novo (saco!). mais um pouquinho e lá vou eu, ver como estão as coisas...
17:45, turma saindo, coração apertadinho no peito, acabamos ficando por conta da reunião de pais, da qual só saímos às 20hs. Mas enquanto eu estava na reunião, Sara brincava lá fora. E então, vamos para casa, filha?...mas quem disse?
-mamãeeeeeeee, tichiiiiiiiiaaaaaaaa, nenénssssss !!!!!!!!!!
E se joga no chão, se joga para trás , já no meu colo, eu rezo para que apareça um "anjo da guarda" e me ajude a levar minha pequenina para casa, enquanto os transeuntes ficam olhando aquela criança que berra desesperadamente no colo daquela mulher....Meus braços doem, paro para tomar fôlego umas três vezes no caminho, tento acalmar a criança, mas parece que nada resolve, só piora...
O trajeto de um quarteirão vira uma eternidade, eu já quase em desespero, tento manter a calma, por um fio a ponto de quase chorar junto com ela, enquanto penso "não cai agora, senão você não chega lá"...
Já no portão de casa, coloco ela no chão, e ela continua a gritar pela tichia e pelos nenéns...pensei, na minha agonia em vê-la naquele estado: "meu Deus, será que fizeram algo com ela, por lá??? o que fizeram com a minha doce Sara???" "será que fiz mal em colocá-la tão cedo na escola"??? "o que aquela mulher ( a professora=tichia) tinha mais do que eu?"
Ao longe, vejo meu esposo chegando, pensei "alguém ai em cima me ouviu", mas nada. Ele tenta em vão acalmá-la, acabamos entrando com ela em casa aos gritos.
Já do lado de dentro, perguntamos tudo:
-quer comer?
-nãoooooo!!!!-grita
-quer princesa?
-nãããããooooo!!!!
-quer leite, pão??
-nãaaaaooooo!!!(chora)
-quer "banbanho"??
-qué detá(deitar)!!!(chora)
-então vamos trocar de roupa?
Mais gritos. trocamos a roupa dela a pulso, e então, a surpresa: ela tinha feito cocô, e pelo andar da carruagem, era coisa de muito tempo.PUTZ, como EU me esqueci de pensar nisso, no básico???????? então a gritaria não era "só"pelos nenéns ou só pelas tichias!!!!! como eu tinha ido sozinha buscá-la, eu fiquei tão preocupada em participar da reunião que não identifiquei o tempo dela, pois de vez em quando ela entrava na sala, pegava na minha mão e dizia: "vamos pichá"(vamos passear= ir para casa?)?
Logo depois, de tudo limpo e arrumado, ela dormiu, acordando depois de uma hora, só para tomar seu santo café com leite de antes de dormir, como se nada tivesse acontecido, calma e doce como sempre.
Nessa noite, depois que ela adormeceu, eu chorei muito, muito mesmo.Pedi milhões de desculpas a ela, pois por um lapso, eu esqueci de a escutar. prometo, meu bem, isso não vai mais se repetir...de agora em diante, quando você chegar para mim, seja onde for e disser"vamos, mamãe?" eu vou te atender!..."
dedicado a Jobis Estevão.